Roma, 8 de mai de 2021 às 17:59
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O Papa Francisco enviou uma mensagem em vídeo aos participantes da V Conferência Internacional do Vaticano “Unindo para curar”, organizada pelo Pontifício Conselho para a Cultura e pela Fundação Cura sobre a relação da mente, do corpo e da alma para a promoção da saúde, ocasião em que convidou os participantes à atitude de “assombro diante do ser humano, a quem não deixamos de descobrir".
Neste sentido, ele lembrou as palavras de Santo Agostinho em suas Confissões nas quais ele define o homem como um "abismo profundo": "Que abismo profundo é o homem".
Como este é um congresso que ocorre na área médica, em sua mensagem o Pontífice começa por expressar gratidão "àqueles que escolheram como compromisso pessoal e profissional o cuidado dos doentes e a ajuda dos mais necessitados".
"Neste momento, estamos todos gratos àqueles que trabalham incansavelmente para combater a pandemia, que não cessa de reclamar vítimas e, ao mesmo tempo, testa nosso senso de solidariedade e fraternidade", disse ele.
O programa da conferência é baseado em três conceitos: corpo, mente, alma. O Papa lembrou que "estas três categorias não correspondem à visão cristã 'clássica', cujo modelo mais conhecido é o da pessoa, entendida como uma unidade inseparável de corpo e alma, que, por sua vez, é dotada de compreensão e vontade".
No entanto, "esta visão não é exclusiva". São Paulo, por exemplo, fala de todo o seu ser, espírito, alma e corpo": é uma concepção tripartite adotada posteriormente por muitos Padres da Igreja e também por vários pensadores modernos".
Corpo
Sobre o primeiro conceito, "corpo", o Papa afirmou que "a camada biológica de nossa existência, que se expressa através de nossa corporeidade, constitui a dimensão mais imediata, mas não por essa razão a mais fácil de entender".
"Não somos apenas espírito; para cada um de nós, tudo começa com nosso corpo, mas não só: desde a concepção até a morte não temos simplesmente um corpo, mas somos um corpo, e a fé cristã nos diz que o seremos também na ressurreição", explicou ele.
Mente
Com relação ao termo "mente", ele observou que "hoje, há uma tendência a identificar este componente essencial com o cérebro e seus processos neurológicos".
Entretanto, "embora sublinhando a relevância vital do componente biológico e funcional do cérebro, este não é, entretanto, o elemento capaz de explicar todos os fenômenos que nos definem como humanos, muitos dos quais não são 'mensuráveis' e, portanto, vão além da materialidade corporal".
O Papa continuou: "De fato, o ser humano não pode possuir uma mente sem matéria cerebral; mas, ao mesmo tempo, sua mente não pode ser reduzida à mera materialidade de seu cérebro".
Neste sentido, ele destacou que "a questão da origem das faculdades humanas, tais como a sensibilidade moral da pessoa, a compaixão, a empatia, o amor à solidariedade que se traduz em gestos filantrópicos e dedicação abnegada aos outros, ou o senso estético, para não mencionar a busca do infinito e do transcendente, permanece sempre relevante".
Alma
O último conceito, "alma". O Papa afirmou que "na tradição judaico-cristã, assim como nas tradições greco-clássica e helenística, estas expressões humanas se referem à dimensão transcendente, identificada com o princípio imaterial de nosso ser, ou seja, com a alma".
"Mesmo que, com o ar do tempo, este termo tenha adotado significados diferentes em diferentes culturas e religiões, a idéia que herdamos da filosofia clássica atribui à alma o papel de princípio constitutivo que organiza todo o corpo e do qual se originam as qualidades intelectuais, afetivas e volitivas, incluindo a consciência moral".
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De fato, "a Bíblia e, sobretudo, a reflexão filosófico-teológica com o conceito de 'alma' definiram a singularidade humana, a especificidade da pessoa irredutível a qualquer outra forma de ser vivo, incluindo sua abertura a uma dimensão sobrenatural e, portanto, a Deus".
"Esta abertura ao transcendente, a algo maior que a si mesmo, é constitutiva e atesta o valor infinito de cada pessoa humana. Podemos dizer, em linguagem comum, que é como uma janela aberta e orientada para um horizonte", enfatizou o Papa Francisco.
Participantes controversos
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A celebração desta Quinta Conferência Internacional do Vaticano não é isenta de controvérsia por causa de seus participantes.
Os nomes dos proeminentes, não remetem à esfera de líderes e intelectuais da Igreja Católica, ao contrário, assim como em edições anteriores a Conferência dá espaço para influenciadores cujo pensamento dista do catolicismo e da doutrina da Igreja
Entre os participantes controversos do Congresso que terminou neste sábado, 8, estiveram Anthony Fauci, o guru das medidas de combate à pandemia nos EUA; Deepak Chopra, emblemático propagador da corrente da nova-era e autor de livros de autoajuda e meditação; a ex-modelo Cindy Crawford, empresária do ramo da beleza; e alguns representantes de empresas farmacêuticas, incluindo Pfizer e Moderna, que fabricam vacinas contra a covid-19 testadas em linhagens celulares obtidas a partir de fetos humanos.
Foram oferecidas também palestras de Davide Feinberg, chefe do Google Health, um departamento da companhia norte-americana que está trabalhando no tema da introdução da inteligência artificial na área da saúde; Amy Abernethy, comissária adjunta da U.S. Food and Drug istration, o FDA; e Chelsea Clinton, filha do ex-presidente dos EUA Bill Clinton e da ex-vice-presidente Hillary. Chelsea é uma defensora do direito ao aborto e afirmou em entrevista no dia 13 de setembro de 2018 à rádio SiriusXM que “não seria cristão” voltar a tornar ilegal esta prática nos Estados Unidos.
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Além de Cindy Crawfort, algumas celebridades do mundo do entretenimento também falarão sobre temas do congresso. Entre eles está Joe Perry, guitarrista da Aerosmith, o cantor Reneé Fleming e o bilionário Ray Dalio, que tem uma fundação para apoiar pesquisas sobre temas de saúde mental.
Vale destacar que Pontifício Conselho para a cultura foi instituído por João Paulo II em 1982 com o objetivo de “de promover os grandes objetivos que o Concílio Ecumênico Vaticano II propôs sobre as relações entre a Igreja e a cultura”.
João Paulo II, na carta que estabelece a criação do pontifício conselho, entretanto alertava: “Onde ideologias agnósticas, hostis à tradição cristã, ou mesmo declaradas ateístas, inspiram certos mestres do pensamento, é ainda maior a urgência que impele a Igreja a dialogar com as culturas, para que o homem de hoje descubra que Deus, longe de ser rival do homem, permite-lhe realizar-se plenamente, à sua imagem e semelhança”.
Por esta razão, o Papa polonês decidiu “criar e instituir um Conselho para a Cultura, capaz de dar a toda a Igreja um impulso comum no encontro sempre renovado da mensagem salvífica do Evangelho com a pluralidade das culturas”.
A única palestra que traz uma agem do Evangelho, ou a temática cristã no V Congresso Internacioal “Unindo para curar” é a do Cardeal Ravasi, sobre o tema: “Construindo pontes entre Fé e Razão”.
A Dra. Robin Smith, Presidente das Fundações Cura e Stem for Life que organizam as conferências, não tem vínculo institucional com o Vaticano nem é membro ou consultora do Pontifício Conselho para a Cultura.
Confira: