"É impossível evangelizar se não confrontarmos essa realidade", diz cardeal sobre abusos 1v3u3k
O papa Leão XIV recebeu ontem (5) no Vaticano pela primeira vez a Pontifícia Comissão para a Proteção dos Menores. | Vatican Media
Por Victoria Cardiel
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6 de jun de 2025 às 13:37
O arcebispo emérito de Boston, EUA, cardeal Seán O'Malley, chefe da Pontifícia Comissão para a Tutela dos Menores, disse que o compromisso da Igreja no combate aos abusos sexuais deve ser firme, depois de encontrar-se ontem (5) com o papa Leão XIV no Vaticano.
“É impossível evangelizar se não enfrentarmos seriamente essa realidade”, disse o O'Malley, um dos fundadores da comissão, criada pelo papa Francisco em 2014.
O cardeal tem vasta experiência em lidar com casos de abuso sexual na Igreja. "Em três das dioceses que servi, houve uma crise massiva de abuso sexual clerical", disse ele.
O cardeal americano se tornou uma figura-chave na resposta da Igreja a essa crise, mas o que mais o ajudou foi aprender as histórias das vítimas.
“O que me ajudou, quando cheguei à primeira diocese — onde existia a dor desse crime — foi conhecer as vítimas e sentir a dor delas para entender o quão horrível é o abuso sexual”, disse o arcebispo.
O cardeal instou todos os bispos do mundo a "se encontrarem com as vítimas para compreender a gravidade deste problema".
O’Malley disse que a Pontifícia Comissão para a Tutela dos Menores "sempre incluiu vítimas e pais de vítimas entre seus membros", o que os ajudou a enfrentar este flagelo com "um toque de realismo".
"Aprendemos muito em nossas conversas com as vítimas", disse o arcebispo. Entre as responsabilidades que o papa Francisco confiou aos membros desse dicastério, O’Malley destaca a formação de uma "liderança da Igreja nessa questão".
"Em nossos programas educacionais, sempre tentamos transmitir a voz da vítima e encorajamos bispos e líderes da Igreja a se reunirem com as vítimas para que elas comecem a entender a gravidade desse problema", disse o cardeal americano.
Cardeal Seán O'Malley. Captura de tela - Vatican Media
No ado, “havia muita negligência” 6n486g
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O cardeal O'Malley criticou a forma como a Igreja lidou com a situação, porque, "no ado, houve muita negligência na tentativa de esconder esse problema".
Em seu diagnóstico, a comissão não ignora decisões equivocadas, como a transferência de um abusador de uma paróquia para outra sem considerar os danos causados. No entanto, hoje, a comissão busca romper o isolamento ao qual as conferências episcopais foram forçadas no ado de várias maneiras. Por exemplo, por meio de visitas ad limina , que a cada cinco anos permitem que as conferências episcopais de cada país visitem a Santa Sé e se encontrem com a Pontifícia Comissão para a Tutela de Menores.
Nessas reuniões privadas, disse o cardeal, o objetivo é ter "a oportunidade de saber o que está acontecendo em seus países e aconselhá-los como Comissão".
Primeiro encontro com o papa Leão XIV c2df
Ontem (5) ocorreu a primeira reunião da comissão com Leão XIV. A reunião, feita sem câmeras nem jornalistas, serviu, entre outras coisas, para informar o papa sobre o status e o progresso de várias de suas principais iniciativas. Entre elas, estava o Projeto Memorare, programa de treinamento desenvolvido para apoiar Igrejas locais — especialmente no Sul global — em seu compromisso com a proteção de menores de idade e o atendimento a vítimas de abuso.
O programa está estruturado em três pilares: a criação de infraestrutura de prevenção, a formação e o apoio na aplicação de protocolos de segurança e a promoção de redes intercontinentais para divulgar conhecimento e fomentar uma cultura eclesial de proteção, transparência e comunicação eficaz.
O projeto se adapta ao contexto em que as Igrejas locais operam, respeitando sua autonomia, mas fornecendo apoio essencial para que todas as jurisdições eclesiais, independentemente de seus recursos, possam cumprir seu dever de proteger os mais vulneráveis.
Também foi discutido o Relatório Anual de 2024, documento que compila as políticas e procedimentos de proteção na Igreja, que o papa Francisco pediu em 2022. Seu objetivo é dar uma avaliação da natureza e eficácia das políticas e procedimentos de proteção na Igreja e oferecer recomendações para melhoria contínua.
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Segundo um comunicado de imprensa da instituição, o encontro com o papa foi "um momento significativo de reflexão, ação de graças e renovação do compromisso inabalável da Igreja com a proteção de crianças e pessoas vulneráveis".
A comissão também deverá apresentar a Leão XIV, antes do fim do ano, o Quadro de Diretrizes Universais, um novo vade-mécum sobre reparações, resultado de um estudo teológico e pastoral e da coleta de dados sobre as práticas de reparação atuais na Igreja universal. O documento, segundo Vatican News, serviço de informações da Santa Sé, baseia-se nas experiências vividas por vítimas e sobreviventes e busca orientar as Igrejas locais a responder aos abusos com justiça e compaixão.
Na audiência, a organização reafirmou seu compromisso com a unidade e a colegialidade de seus membros. "Também expressamos nossa gratidão aos Dicastérios da Cúria Romana por sua crescente colaboração e os convidamos a continuar trabalhando juntos neste ministério vital", disse o comunicado.
Victoria Cardiel é jornalista especializada em temas de informação social e religiosa. Desde 2013, ela cobre o Vaticano para vários veículos, como a agência de noticias espanhola Europa Press, e o semanário Alfa y Omega, da arquidiocese de Madri (Espanha).
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