Por Natalia Zimbrão
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28 de abr de 2025 às 11:05
O arcebispo emérito de Aparecida (SP), cardeal Raymundo Damasceno Assis, considera que uma das marcas do pontificado do papa Francisco, que morreu em 21 de abril e foi sepultado no sábado (26), é “a sinodalidade”.
“O papa Francisco iniciou esse processo sinodal, foram dois sínodos realizados por ele. Na Igreja, somos chamados a caminhar juntos. Essa sinodalidade se expressa na comunhão, na participação e na corresponsabilidade. Esse processo, iniciado e bem adiantado, creio que será continuado pelo próximo papa”, disse o cardeal Damasceno em entrevista ao Correio Braziliense, ontem (27).
Dom Raymundo Damasceno, 88 anos, é um dos oito cardeais brasileiros. Ele está em Roma e participou do funeral de Francisco. Porém, por ter mais de 80 anos, não é eleitor no conclave que começará dia 7 de maio.
Os demais cardeais são: cardeal João Braz de Aviz, 77 anos, prefeito emérito do dicastério para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica; cardeal Odilo Scherer, 75 anos, arcebispo de São Paulo (SP); cardeal Orani Tempesta, 74 anos, arcebispo do Rio de Janeiro (RJ); cardeal Leonardo Steiner, 74 anos, arcebispo de Manaus (AM); cardeal Sérgio da Rocha, 65 anos, arcebispo de Salvador (BA) e primaz do Brasil; cardeal Jaime Spengler, 64 anos, arcebispo de Porto Alegre; e cardeal Paulo Cezar Costa, 57 anos, arcebispo de Brasília (DF).
“O que o papa Francisco implementou está, de certa forma, no Concílio Vaticano II”, disse dom Raymundo, ao considerar que a Igreja seguirá nos rumos empreendidos por Francisco.
O arcebispo emérito de Aparecida disse que o papa Francisco “insistiu muito em uma Igreja missionária, a Igreja que existe para evangelizar” e “traduziu isso em uma frase muito significativa, própria também dele”, que é a “Igreja em saída”. Trata-se, disse, de “uma Igreja que vai ao encontro das pessoas para levar o Evangelho, não uma Igreja autorreferencial, que pense em si mesma, mas uma Igreja que sai ao encontro das pessoas”.
Para dom Raymundo, o primeiro documento do papa Francisco, a exortação apostólica Evangelii Gaudium, de 2013, foi “um documento programático, que praticamente trazia todo o programa de seu pontificado e que ele desenvolveu ao longo dos 12 anos à frente da Igreja”.
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O cardeal destacou também como marca do pontificado de Francisco “o acento sobre a misericórdia, a bondade de Deus”. “Deus é coração e não se cansa de perdoar. Nós é que nos cansamos, muitas vezes, de pedir perdão a Deus. Portanto, um Deus bondoso, misericordioso, que acolhe a todas as pessoas que se aproximam Dele”, disse.
Unidade na diversidade a374x
O arcebispo emérito de Aparecida negou que uma ala mais conservadora possa fazer diferença no conclave que vai eleger o próximo papa. Segundo ele, “a Igreja não é uma uniformidade, é uma unidade e uma comunhão, uma diversidade”, em que “pensar diferente não é tão relevante”.
“É importante que sigamos em comunhão uns com os outros. Na Igreja, o princípio e o fundamento dessa unidade e dessa comunhão, visível na fé, é o papa. Pensar diferente, mas manter a unidade e a comunhão, é uma riqueza para a Igreja. A diversidade é uma riqueza nesse sentido, na medida em que não se rompe a comunhão com o papa e na unidade da fé”, disse.
Dom Raymundo considerou “difícil dizer de qual região” do mundo virá o futuro papa “quem será”. “A gente sabe que o número de cardeais, hoje, é bastante grande”, disse, ao ressaltar que são 135 cardeais eleitores, dos quais 80% foram criados pelo papa Francisco, muitos dos quais ainda desconhecidos, “pois vivem em regiões distantes”.
O arcebispo emérito disse que os cardeais terão a “oportunidade de se conhecer um pouco melhor” nas congregações gerais, antes do conclave.
“Aqui corre um ditado muito conhecido em Roma, segundo o qual ‘quem entra papa sai cardeal’. Temos alguns exemplos. O último papa, Francisco, não constava de nenhuma lista dos futuros papas. Nem na bolsa de Londres, nem entre aqueles nomeados pelos jornalistas. No entanto, foi o escolhido. Então, é sempre uma surpresa, não há dúvida nenhuma”, disse.
Natalia Zimbrão é formada em Jornalismo pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. É jornalista da ACI Digital desde 2015. Tem experiência anterior em revista, rádio e jornalismo on-line.