O padre DJ da JMJ deu uma festa de “noite de bruxas”? j195p

Nesta festa é tradição celebrar a “noite das bruxas”, evento que mistura festas, espetáculos e homenagens a superstições, bruxarias, misticismo, e em que moradores e turistas usam fantasias de terror.

O vídeo mostra o padre Peixoto tocando música eletrônica num palco que tem chifres de diabo. Alguns jovens também usam chifres na cabeça ou fantasias de bruxa, iluminação vermelha e pirotecnia, o símbolo do pentagrama invertido, entre outros elementos polêmicos.

A ACI Prensa, agência em espanhol do grupo ACI, tentou por diversas vezes entrar em contato com o padre Peixoto e com a arquidiocese de Braga para pedir uma declaração sobre a sua participação neste evento, mas até a publicação desta notícia não obteve qualquer resposta.

O padre Jorge Obregón González, dos Legionários de Cristo, fundador da plataforma New Fire de conteúdo católico para jovens, disse que são "perturbadoras as cenas do padre, dirigindo um evento com uma atmosfera cheia de simbolismo tudo menos belo, harmonioso e celestial”.

“Basta ver os comentários que as pessoas colocam sobre isso. Se não me engano, sugerem-lhe usar as mãos para celebrar os sacramentos, para atividades sagradas. O vídeo é altamente perturbador", disse o padre em entrevista à ACI Prensa.

Depois de assistir ao vídeo, frei Edward Vélez Aponte, padre dominicano e Doutor em Sagrada Teologia pela Universidade de Navarra, Espanha, disse que a presença do padre Peixoto no evento parece "reprovável, desastrosa, extremamente pobre".

"Por quê? Porque há lugares e ações que os padres não devem fazer, não porque sejam maus em si mesmos - o que podem ser - mas porque a investidura e a condição clerical implicam comportamentos públicos e privados de natureza espiritual”, disse em conversa com a ACI Prensa.

Perigos para um padre e para os jovens ao participar deste tipo de festa

Segundo frei Edward, o perigo para um padre ir a esse tipo de festival está relacionado com "transformar o sagrado em mundano, a falsa proximidade com o mundo, a perda do significado espiritual e da beleza sagrada e o esfriamento espiritual".

“Tudo isso leva a um afastamento do sobrenatural. O padre está no mundo, mas não é do mundo”, diz.

O padre Obregón, mestre em Teologia Bíblica pela Universidade Católica John Paul the Great (EUA), disse "que todo sacerdote é chamado a ser 'alter Christus', outro Cristo". “Há espetáculos, música, cenas e movimentos que ajudam a entrar em contato com Deus e com a natureza, mas há outros que não”, acrescenta.

Obregón diz que a festa da noite de bruxas “não é um exemplo para ninguém, muito menos para os jovens que estão escolhendo o melhor da vida, e se deparam com muitas ofertas ou opções”.

Frei Edward concorda, e lamenta que esse tipo de festa possa até promover "excessos entre os jovens".

“Os hobbies não são compatíveis com a evangelização quando contradizem a mensagem de Cristo”

Frei Edward reconhece que a maioria dos padres tem hobbies. No seu caso particular, diz que é fotógrafo e músico de profissão. Embora atualmente se dedique ao trabalho ministerial. Ele conta que continua “tocando piano, violão e tirando fotos”.

“Estou comentando tudo isso para dizer que o limite entre um hobby e a evangelização não existe, ambos deveriam ser 100% compatíveis. Nem sempre uso a fotografia e a música na evangelização, mas às vezes sim, sem protagonismos e sempre pensando que e isso deve integrar um claro projeto de evangelização”, diz.

Para o frade dominicano, um hobby não é compatível com a evangelização quando “tem vícios que contradizem a mensagem de Cristo”. “Agora, os hobbies de um padre nem sempre devem fazer parte de seu plano de evangelização, mas devem falar de Cristo”.

“Por exemplo, há cinéfilos que iro pelo gosto e pelas informações sobre filmes. Mas se um deles for um padre interessado em filmes de nudez, estaria afastado da evangelização. A recreação para o padre é importante, mas a sua forma de se divertir nunca deve contradizer o seu ser", continua.

No caso específico do padre Peixoto, Obregón considera que “se o padre faz o trabalho de DJ em uma festa, muito bem, desde que não promova músicas que estimulem o mundanismo e ameacem a fé".

O decreto Presbyterorum ordinis, um dos documentos elaborados pelo Concílio Vaticano II, diz no número 3 que “os presbíteros do Novo Testamento, em virtude da vocação e ordenação, de algum modo são segregados dentro do Povo de Deus, não para serem separados dele ou do qualquer homem, mas para se consagrarem totalmente à obra para que Deus os chama”.

“O seu próprio ministério exige, por um título especial, que não se conformem a este mundo; mas exige também que vivam neste mundo entre os homens e, como bons pastores, conheçam as suas ovelhas e procurem trazer aquelas que não pertencem a este redil, para que também elas ouçam a voz de Cristo e haja um só rebanho e um só pastor”, continua o documento.

Frei Edward, por fim, destaca a importância desse documento e reitera que o comportamento de um clérigo “deve ser sobrenatural e não mundano”.

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Quem é o "padre DJ" que tocou música eletrônica na #JMJLisboa2023? https://t.co/ntiej6pHub

— ACI Digital (@acidigital) August 9, 2023