Cinquenta e cinco anos atrás, o papa são Paulo VI promulgou a encíclica Humanae vitae, que esclareceu inequivocamente a oposição perene da Igreja ao uso de contraceptivos artificiais, no momento em que as pílulas anticoncepcionais inundavam o mercado. Embora tenha enfrentado resistência de vários teólogos e até de bispos e cardeais da época, a doutrina de Humanae vitae foi reafirmada e desenvolvida por ensinamentos papais subsequentes, desde Evangelium vitae de são João Paulo II até a versão atual do Catecismo da Igreja Católica, recentemente revista pelo papa Francisco, que, no número 2.370 descreve a contracepção como “intrinsecamente má” e cita exatamente Humanae vitae: “qualquer ação que, quer em previsão do ato conjugal, quer durante a sua realização, quer no desenrolar das suas consequências naturais, se proponha, como fim ou como meio, tornar impossível a procriação”.

Agora, um instituto da Santa Sé criado pelo grande papa e santo polonês está pressionando por uma “mudança de paradigma” na teologia moral que inclui abandonar a doutrina estabelecida sobre contracepção, mas também sobre eutanásia e sobre formas de concepção artificial. Os defensores dessa “mudança radical” estão instando o papa Francisco a publicar uma encíclica estabelecendo essa ruptura radical com o consenso magisterial pós-Concílio Vaticano II.

Essa “mudança de paradigma” consta de um livro da Pontifícia Academia para a Vida, instituto acadêmico criado por são João Paulo em 1994 para estudar e dar orientações “sobre os principais problemas da biomedicina e do direito, relativos à promoção e defesa da vida, sobretudo na relação direta que têm com a moral cristã e as diretrizes do magistério da Igreja”.