MUNIQUE, 20 de jan de 2022 às 14:00
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O relatório sobre abusos sexuais na arquidiocese de Munique e Freising, apresentado hoje em Munique, contém investigação de uma possível má conduta do ex-arcebispo Joseph cardeal Ratzinger, hoje papa emérito Bento XVI, e do arcebispo atual, Reinhard cardeal Marx.
Foram examinadas 261 pessoas acusadas de abuso na área de responsabilidade da arquidiocese de Munique e Freising entre 1945 e 2019. "Algo foi encontrado" em 235 pessoas.
Entre eles, segundo os especialistas, foram considerados culpados 173 padres, nove diáconos, cinco oficiais de pastoral e 48 pessoas de outros grupos profissionais, como, por exemplo, do serviço escolar.
Marx não estava na conferência de imprensa que apresentou o documento.
Na entrevista coletiva, que começou às 11h da manhã de quinta-feira, estavam presentes, além da moderadora Barbara Leyendecker, os especialistas do escritório de advocacia contratado Marion Westpfahl, Ulrich Wastl e Martin Pusch. Leyendecker anunciou que Marx "decidiu não participar", sem entrar nos possíveis motivos.
Marion Westpfahl disse que o cardeal foi "expressamente" convidado, mas não aceitou o convite. "Lamentamos muito a sua ausência", disse Westpfahl.
Os investigadores contratados supõem que haja 497 vítimas. Martin Pusch enfatizou que isso pode não refletir "o número inteiro". Para ele, o número de casos não-notificados é maior.
A maioria das vítimas é do sexo masculino (247), 182 dos atingidos são do sexo feminino e em 68 casos não foi possível saber.
Das vítimas do sexo masculino, 60% tinham entre oito e 14 anos na época dos supostos crimes. Entre as vítimas do sexo feminino, as menores representam um terço.
Martin Pusch explicou que queria "enfatizar particularmente" que o Papa Emérito Bento XVI respondeu "extensamente" às perguntas que lhe foram feitas. Sua declaração de 82 páginas deu aos especialistas uma "visão autêntica".
O então arcebispo Ratzinger tinha quatro casos para explicar: dois padres condenado por abuso pelo Estado que continuaram a trabalhar no cuidado pastoral sem serem processados sob o direito canônico; a contatação pela diocese de um padre que "já havia sido condenado por um tribunal não-alemão", e o caso do padre Peter H., que reincidiu como agressor condenado na arquidiocese.
Os investigadores achavam que Ratzinger, como arcebispo de Munique e Freising, também tinha conhecimento do caso de Peter H, mas não conseguiram nenhuma prova. O investigador Ulrich Wastl conjectura que é "predominantemente provável" que ele soubesse.
Bento XVI nega isso até hoje e afirmou que ainda pode se referir à sua "excelente memória de longo prazo".
O diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé disse em Roma hoje, 20 de janeiro: "A Santa Sé acredita que deve dar a devida atenção ao documento, cujo conteúdo desconhece no momento. Nos próximos dias, após sua publicação, tomará conhecimento dele e será capaz de examinar seus detalhes apropriadamente."
“A Santa Sé reitera sua vergonha e remorso pelos abusos de menores cometidos por clérigos e assegura a todas as vítimas sua proximidade e reafirma o caminho percorrido para proteger os mais jovens e garantir-lhes um ambiente seguro”.
Os especialistas de Munique acusam o arcebispo em exercício em Munique e Freising, Reinhard cardeal Marx, de má conduta ao lidar com casos de violência sexual duas vezes. Em primeiro lugar, Marx não teria tomado nenhuma medida para abordar as vítimas de abuso e dar-lhes mais ajuda. Em segundo lugar, o cardeal teria agido ilegalmente ao não relatar casos à Congregação para a Doutrina da Fé da Santa Sé.
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No que diz respeito ao discernimento do arcebispo, o relatório da chancelaria levantou indiretamente dúvidas. Em sua declaração aos investigadores, Marx enfatizou que, em sua opinião, a principal responsabilidade pelo processamento dos casos era de seu ordinariato e do vicariato geral. Se esses não cumpriram seus deveres, ele, Marx, sentia apenas uma "responsabilidade moral".
O advogado Pusch observou que Marx também enfatizou que, como arcebispo, ele era o principal responsável pela "proclamação da palavra de Deus".
Essa avaliação "não foi compartilhada sem reservas" pelos investigadores. "Quando, senão no caso do abuso sexual de menores, é apropriado classificar um tema como 'prioridade máxima'? Isto é especialmente verdadeiro quando os regulamentos relevantes atribuem um papel central ao bispo diocesano."
O comportamento dos predecessores de Marx também foi examinado. O cardeal Friedrich Wetter, arcebispo de 1982 a 2008, fez muito pouco para esclarecer 21 casos e deixou de cuidar das vítimas, diz o relatório.
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Wetter reconhece sua culpa em apenas um caso.
Os ex-arcebispos Michael von Faulhaber, Joseph Wendel e Julius Döpfner também são acusados de má conduta ao lidar com casos de abuso, mas estão mortos.
Horas depois da apresentação do relatório, o arcebispo Marx disse em um pronunciamento que seu primeiro pensamento foi para as vítimas de abuso sexual. "Estou chocado e envergonhado", disse o cardeal. "Para mim, os encontros com vítimas de abuso sexual foram um ponto de virada. Eles mudaram minha percepção da igreja e continuam a mudá-la."
"Como tenho dito repetidamente, como arcebispo de Munique e Freising, sinto que compartilho a responsabilidade pela Igreja como instituição nas últimas décadas. Como arcebispo em exercício, peço desculpas em nome da arquidiocese pelo sofrimento infligido às pessoas nas últimas décadas", disse Marx.
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Marx enfatizou sua convicção de que o Caminho Sinodal Alemão, iniciado quando ele era o presidente da conferência episcopal alemã, desempenha um papel importante. O motivo alegado para a convocação do Caminho Sinodal, um processo de discussão que deve durar três anos, foi exatamente a crise dos abusos sexuais do clero. No processo, criticado pelo papa Francisco e por parte do clero alemão, discute-se a mudança da estrutura governamental da Igreja, dando maior lugar aos leigos, a mudança na moral sexual da doutrina católica, a ordenação de mulheres, e o fim do celibato sacerdotal, todos temas que, segundo a Santa Sé, não podem ser decididos no âmbito de uma igreja nacional.
"É sobre a renovação da igreja, é sobre o que também estamos tentando fazer e avançar no Caminho Sinodal na Alemanha”, disse o arcebispo. “Lidar com o abuso sexual não pode ser separado do caminho de mudança, renovação e reforma da Igreja. Continuaremos trabalhando nisso juntos”.
No ano ado Marx tentou renunciar de seu posto de arcebispo de Munique, mas o papa Francisco não aceitou.
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